Editorial – Augusto Aguiar Branco
A criação do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20), em 1998, trouxe uma polivalência metodológica nova e necessária à academia portuguesa. A produção científica sobre o passado próximo, decorrente da investigação, tornava-se aberta à interdisciplinaridade, ao cruzamento de perspetivas e de formas de pensar. Tal como no mundo económico, a divisão acentuada no trabalho científico gerara a proliferação de conhecimentos parcelares, que perdiam a visão do todo, ou, no melhor dos casos, produzia sínteses globais através de uma única lente e maneira de olhar. Se a interdisciplinaridade serviu, durante um certo período, como fórmula em voga, quase mágica, é verdade que, tendo perdido um pouco o aspeto sagrado de tudo conseguir explicar, permanece como desafio estimulante. Quase obrigatório, como contraponto da inevitável redução do objeto científico a qualquer reduto exíguo, difícil, até, de justificar, pelo interesse ou pelo impacto na sociedade.
A Fundação Eng. António de Almeida foi, desde a criação do CEIS20, atenta a este novo impulso, vindo da Universidade de Coimbra.
Dividiria o auxílio da Fundação, ao CEIS20, decorridas mais de duas décadas, em três vetores, necessariamente muito resumidos: o apoio a publicações, o apoio à realização de Colóquios, e o apoio ao Grupo de Investigação “Europeísmo, Atlanticidade e Mundialização”.
O apoio às publicações do CEIS20 realizou-se em benefício da “Revista Estudos do Século XX”, desde o primeiro número (“Estéticas do Século”, 2002) ao número treze (“Estado Providência”, 2013), da Coleção “Estudos Sobre a Europa”, do número seis (“Mare Oceanus. Atlântico – Espaço de Diálogos”, 2007) ao número nove (“2009: (Re)Pensar a Europa”, 2010), do primeiro número da Coleção “História Contemporânea” (“Estados Novos: Estado Novo”, 2009), e de outras publicações não periódicas ou de coleção, como “Calvet de Magalhães – Pensamento e Ação” (2015) e “Europa, Atlântico e o Mundo: Mobilidades, Crises, Dinâmicas Culturais e Identitárias. Estudos Para Maria Manuela Tavares Ribeiro” (2017). O apoio da Fundação reverteu também em benefício da publicação de Atas de Colóquios e Congressos, com bastante frequência, pelo que me dispenso de tudo enumerar, dando referência, apenas, do último, o Colóquio Internacional “Dois Séculos da Revolução de 1820: Liberalismo, Anti-liberalismo e Pós-liberalismo” (2020).
A Fundação também apoiou a realização de muitos Colóquios e Seminários, organizados pelo CEIS20, chegando a integrar, na pessoa do seu Presidente, a Comissão de Honra, como aconteceu no Colóquio “Portugal-Brasil: Uma Visão Interdisciplinar do Século XX”, de 2003. O totalitarismo, a arquitetura contemporânea, a geopolítica portuguesa e europeia, as autonomias políticas regionais, a dimensão atlântica da Europa, o património cultural e museológico, foram temas, entre outros, de iniciativas apoiadas. Para não as enumerar cabalmente, mais uma vez refiro a última, a realização do Colóquio Internacional “O Ano de 1917…”, em 2017, alusivo à Revolução Russa.
O último vetor, recordo, é o do apoio ao Grupo de Investigação “Europeísmo, Atlanticidade e Mundialização”. Reporto, aqui, além do financiamento às iniciativas, o auxílio às deslocações dos investigadores ao estrangeiro, que nem sempre é fácil de conseguir através dos mecanismos próprios das universidades portuguesas.
Apontei, como mérito da interdisciplinaridade dos estudos, um conhecimento que ultrapassa os campos limitados dos objetos de estudo e o eventual impacto na sociedade. Somarei, a estes dois pontos, um terceiro.
O próprio conhecimento atual é feito “em rede”, sem ponto de apoio fixo, não tem uma raiz, mas várias, como diversos ramos que se prolongam, em redor, a partir de uma árvore imaginária e sem tronco. As narrativas clássicas, ordenadas fixamente, perderam muito do seu valor explicativo, o que foi, talvez, anunciado precocemente pela literatura e outras artes, mesmo antes das ciências sociais e humanas.
É por esta razão que um Centro de Estudos, Interdisciplinar, do Século 20 tem ainda mais razão de ser no Século 21.
Com o apoio sempre renovado, certamente, da Fundação Eng. António de Almeida.
Augusto Aguiar-Branco