Editorial – Luís Reis Torgal
As realizações com alguma substância começam por vezes com um simples facto, por assim dizer, trivial ou quase anedótico. Eu orientava as dissertações de doutoramento de cinco orientandos, todos externos à Universidade de Coimbra, originários de outras universidades ou escolas de ensino superior (uma brasileira), que tinham, obviamente formações diferentes. Reuníamo-nos periodicamente e um dia surgiu a ideia de criarmos um grupo de investigação formal, a que daríamos o nome de SEIS20, porque éramos seis, porque tínhamos como objectivo o estudo do século XX e usávamos como método o que convencionámos ser a interdisciplinaridade.
Mais tarde vim a coordenar a primeira comissão internacional de avaliação dos centros de História da FCT e consolidei a ideia que se tinha então das unidades de investigação. Era, efectivamente, a da interdisciplinaridade e, ao contrário do conceito que veio a surgir (em que se começou a falar da "massa crítica", que supunha a existência de grandes equipas de pesquisa), a da formação de pequenos e consolidados núcleos de investigação e troca de ideias.
Essa experiência, a minha participação em júris universitários de várias áreas (mercê até da falta de doutorados e, depois, de professores catedráticos em certas especialidades), as visitas de trabalho a diversos países, aliadas à circunstância de o século XX estar a terminar, levou-me ao projecto de formação de um núcleo interdisciplinar e interuniversitário virado para o estudo desse século, embora aberto a análises dos séculos anteriores e ao século XXI, que iria em breve despontar. Daí, e dum sistema complexo de colaborações fundamentais e de muita abnegação, nasceu o CEIS20.
Daqui passou-se para um centro cada vez mais aberto e com mais grupos de pesquisa e mais investigadores, a ponto de o CEIS20, que significava Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, acabar por se transformar recentemente, embora mantendo a sigla, significativamente simbólica, em Centro de Estudos Interdisciplinares. É só esta evocação que desejo apresentar no início da publicação que marca o 25.º aniversário desta instituição. Ela deve sobretudo incutir em todos os membros do Centro o desejo de trabalhar e de criar novos, inovadores e consolidados projectos, onde a interdisciplinaridade se afirme, nunca esquecendo, todavia, a raiz deste nosso grupo de investigação.
Coimbra, 8 de Novembro de 2023
Luís Reis Torgal
