Revista Mediapolis – Olimpismo. Contributos a partir dos estudos sobre media, jornalismo e comunicação
Na linha de continuidade dos números 8 e 15 da revista Mediapolis, dedicados ao desporto e ao futebol, respetivamente, na sua relação com os media, abrimos este novo número aos estudos sobre olimpismo, mais uma vez na sua interação com os media, o jornalismo e a comunicação.
Recordamos que em 2024 se realizam os Jogos Olímpicos de Paris, precisamente num ano em que se comemora o centenário do Jogos Olímpicos de Paris de 1924, que tiveram um enorme impacto na imprensa portuguesa e internacional, contribuindo decisivamente, por exemplo, para a criação do primeiro jornal diário desportivo português, o Diário de Sport, nesse mesmo ano.
Mais uma vez, como assinalámos no número 15, acreditamos que dedicar um número desta revista à relação entre olimpismo, media, jornalismo e comunicação é, em si mesmo, uma aposta ousada, sobretudo no contexto académico e científico português, onde se revela um paradoxo: o desporto é um dos mais representativos fenómenos da cultura popular mas tem uma mitigada atenção académica, sobretudo a partir do enfoque científico das humanidades e das ciências sociais. O mesmo sucede ao nível do próprio jornalismo português, em que o jornalismo desportivo (muitas vezes secundarizado) tem um papel hegemónico, embora de cariz enviesado, com o futebol a dominar a narrativa mediática sobre desporto. Salientamos também que do ponto de vista comemorativo se justificava esta temática em 2024, ano olímpico e ano do centenário da histórica edição dos Jogos Olímpicos de Paris de 1924, com um incontornável impacto na história dos media, do jornalismo e da comunicação.
Acentuamos mais uma vez que do ponto de vista científico, por um lado ainda continuamos a ter uma academia herdeira da tradição dos estudos anglo-saxónicos sobre desporto, envolvendo o próprio movimento olímpico, cristalizados nas décadas de 60, 70 e 80 do século XX, acostumada a associá-lo aos conceitos de ordem, disciplina, corpo, alienação e cultura de massas. O desporto e o olimpismo ficam, assim, alinhados epistemologicamente nos campos do lazer e do tempo livre, entendidos como temas menores, afastados das grandes temáticas, como podem ser a política ou a economia, por exemplo, que regem as dinâmicas internacionais e a ideia de tempo presente. Por outro lado, no campo ocupado pelos media, jornalismo e comunicação assistimos a um crescimento exponencial do fenómeno desportivo ao longo dos séculos XX e XXI, com o olimpismo a desempenhar um papel fundamental nesse processo. Porém, ainda persiste um certo olhar sobre o fenómeno desportivo como um assunto secundário tematicamente, em termos informativos, quando comparado com temas considerados socialmente mais relevantes.
As extensas e imbatíveis audiências globais geradas pelos Jogos Olímpicos, cada quatro anos – e a própria massificação (popular e mediática) que lhe está associada nesse período – levou a algum afastamento da comunidade intelectual, avessa a este género de fenómenos, apelidados, tantas e tantas vezes, de forma pejorativa, como de “massas” ou de “baixa cultura”. Porém, ao contrário do futebol, muito mais popular, o movimento olímpico beneficiou de um certo elitismo relacionando com os seus praticantes, assim como com os ideais olímpicos e as suas múltiplas dimensões políticas, económicas e sociais, amplamente analisadas à luz de disciplinas como a história, a sociologia, a filosofia, as relações internacionais, o direito, a educação física ou o desporto, entre outras. O movimento olímpico, nascido em finais do século XIX e popularizado no século XX, chegou ao novo milénio como elemento criador de modas e comportamentos à escala global, assumindo-se como um “facto social total” e complexo, carente de reflexão e investigação por parte das humanidades e das ciências sociais, assim como do enfoque disciplinar do jornalismo e das ciências da comunicação. O desafio deste número é demonstrar, mais uma vez, o quanto o olimpismo pode e deve constituir-se num objeto de pesquisa e investigação no âmbito académico e científico, dada a sua plasticidade social e apelo a abordagens interdisciplinaridades e/ou multidisciplinaridades.
A Mediapolis inclui, deste modo, o olimpismo como tema central, demonstrando também ela o seu carácter vanguardista, plural e interdisciplinar – em linha com os pressupostos do grupo (GICJEP) e do centro de investigação (CEIS20) que lhe estão na génese. Como se trata da primeira incursão desta revista a um tema tão complexo, o desafio é abrir e criar um espaço de reflexão e discussão sobre o olimpismo na sua relação com os media, jornalismo e comunicação, preferencialmente alimentado por investigações empíricas originais e inovadoras, alargadas a múltiplas visões e temas, que questionem e pensem o olimpismo e as suas intersecções com os media, o jornalismo e a comunicação.
Aceitamos contributos em vários domínios, incluindo:
1) Teorias e metodologias;
2) História, megaeventos, violência, discriminação, racismo;
3) Sexualidade, género, celebridades, público;
4) Ciberespaço, redes sociais e videojogos;
5) Audiências e espetacularização;
6) Política, nação e identidades;
7) Relações internacionais e soft power;
8) Estética, cultura e ideais olímpicos;
9) Cinema, fotografia e publicidade;
10) Ética e deontologia;
11) Transformações informativas e tecnológicas.
Os artigos devem ser submetidos até 10 de março de 2024, para integrar este número da Mediapolis, referente ao segundo semestre de 2024.
Deverão seguir-se as seguintes normas de publicação.
Coordenadores do número: Francisco Pinheiro (CEIS20-UC) e Rita Nunes (Comité Olímpico de Portugal)